Conheça o Malvestida, site mexicano com um novo olhar para com as “pautas femininas”

Acho que já comentei por aqui, mas existem poucos veículos femininos que façam sentido para mim atualmente. Entre esses poucos, está o mexicano Malvestida, criado por Alejandra Higareda.

“Malvestida” porque, para ela, essas são as pessoas mais interessantes. O site, que começou como um blog de mesmo nome, aborda assuntos importantes, da moda à sexualidade, e é um porta-voz para novos artistas e profissionais.

Com muita alegria, consegui bater um papo com a criadora, que não só confessou passar por momentos ~perdidos~ antes de chegar aonde está, como também abriu o coração com dicas para que a gente também passe e ultrapasse esses momentos. Além de, claro, explicar mais sobre o projeto inspirador.

Ah! Se quiser, dá um play neste podcast antes de ler a nossa conversa (sim, o podcast é em espanhol, mas pode ser que role se você é treinado em RBD). É uma maneira gostosa de descobrir mais sobre a trajetória da Alê.

Escutei o Podcast Ellas Ahora com você. Lá, você disse que nem sobre soube que caminho queria seguir. Durante a faculdade, por exemplo, você citou que os colegas de turma sabiam exatamente que tipo de profissionais queriam ser, mas você não. Como era isso? 

Foi um processo muito interessante porque, ainda que eu escrevesse um blog, eu não imaginava que isso poderia se tornar a minha profissão, já que não havia nenhuma referência próxima de mim que estava fazendo isso. Demorou alguns anos de provas e erros, mas eventualmente fui encontrando minha voz e meu caminho no mundo editorial, até criar um projeto como o Malvestida, que me enche de emoção.

Existe uma pressão muito grande para termos respostas e certezas, mas a verdade é que nem sempre as temos. Para você, qual foi a maior lição desse tempo que se sentiu perdida?

Acho que a grande lição foi fazer coisas por convicção e não por moda. Quando eu comecei a escrever o meu blog, fazia isso porque queria me conectar com outras pessoas que se sentiam como eu, não por fama. Eu acredito que se nosso coração está no lugar correto, então o tempo investido sempre valerá a pena – até mesmo os momentos difíceis, quando pensamos que nada faz sentido.

Meu projeto fala muito sobre estar perdida. Muitas meninas sentem que não estão aonde gostariam de estar. Que conselho poderia compartilhar com elas?

É normal se sentir perdida em alguns momentos – às vezes pode até ser um motor para mudanças. Mas para mim, o mais importante é a consistência. Se você começa um projeto que te faz feliz, então o mantenha no teu próprio ritmo. Não se compare com outras pessoas, porque cada um tem a sua história e o seu tempo.

Uma vez, uma boa amiga me disse para eu não comparar meu “dia 1” com o “dia 100” de outra pessoa. Isso me ajudou a dar perspectiva aos meus avanços e aprender a celebrá-los, por mais pequenos que sejam.

Não se compare com outras pessoas, porque cada um tem a sua história e o seu tempo

Conta um pouco mais de como foi o processo desde a criação do Malvestida até agora?

Começou com uma inquietação pessoal, uma vontade de querer ver um meio de comunicação muito mais diverso e inclusivo; uma vontade de querer conhecer novas histórias, distantes dos clichês das revistas femininas. Desde então, tem sido um processo de muita aprendizagem, um processo de encontrar pessoas fascinantes que acreditaram na minha visão e me ajudaram a formar um projeto com vida própria.

A colaboração é uma peça chave de Malvestida, porque tem permitido que projeto se nutra de diferentes pontos de vista e experiências, para assim, criar sua própria personalidade.

Muitas meninas têm curiosidade (eu entre elas!) de fazer um projeto sair do papel. Como você fez para que a revista se tornasse algo, de fato, profissional?

O mais importante é começar com o que você tem. Muitas pessoas falam de planos de negócios complexos e investimentos, que, sim, com certeza, são importantes e desejáveis, mas, no meu caso, o que eu fiz foi começar com as ferramentas que eu já tinha na mão. Isso me permitiu aprender rapidamente e amadurecer junto com o projeto para, somente agora, tomar decisões estratégicas, empresarialmente falando.

Também é importante reconhecer quais são as nossas limitações e nos cercar de pessoas experientes em outras áreas. Se você não sabe de finanças, peça ajuda; se não sabe como fazer marketing, peça ajuda. Com certeza haverá alguém que acredita no teu projeto e te apoia. Você também pode fazer cursos de empreendedorismo e contratar consultores, mas, para mim, o mais importante é fazer as coisas. Parar de planejar e começar a agir.

Adoro como vocês dão outro enfoque e trazem conteúdos que não aprecem nos meios tradicionais. Como trabalham para fazer esse conteúdo que, como você disse anteriormente, é um conteúdo real, não aspiracional?

Algo que eu realmente gosto no Malvestida é que os tópicos sempre são abordados de uma maneira muito honesta. Não estamos tentando dar lições a ninguém, somente (queremos) compartilhar experiências e, assim, ver em que pontos convergimos e em que pontos não convergimos com outras pessoas que passaram por situações semelhantes.

Eu acho valioso compartilhar em comunidade, porque isso se converte em um exercício de representação, empatia e cura. Estamos lendo uma às outras, estamos nos vendo refletidas, estamos tecendo vínculos de sororidade.

Não estamos tentando dar lições a ninguém, somente (queremos) compartilhar experiências e, assim, ver em que pontos convergimos e em que pontos não convergimos

Qual você acha que é o maior desafio de fugir ou não fazer como o mainstream?

Mais que fugir do mainstream, acho que se trata de falar que coisas que realmente são importantes para a gente, sem se importar se são “mercadologicamente atrativas” ou não. Se algo nos dói, se algo nos causa ilusão, se algo faz a gente rir ou deixa a gente com raiva, se provoca uma reação profunda na gente, então precisamos fazer disso.

O problema é que muitas marcas preferem ficar apenas no superficial ou só querem vender algo para você. No entanto, no Malvestida, conseguimos nos conectar com projetos que compartilham nossa visão e também querem fazer uma mudança no seu entorno. É sobre tomar o caminho mais longo, mas mais satisfatório.

UM PASSEIO NO MÉXICO COM ALÊ HIGAREDA

Ilustração: Bruna Manhães

Como você enxerga a cena criativa no México?

O México é um país cheio de contrastes (característica que o faz ser fascinante), e esses contrastes se refletem nos seus criadores. Há uma cena vibrante que o tempo inteiro de se transforma – uma cena que pode ir do informal ao mais luxuoso.

Sinto que cada vez mais os criadores têm consciência disso e estão olhando para dentro, em vez de apenas se inspirar e focar no que os países desenvolvidos estão fazendo. Assim, pouco a pouco, vamos entendendo que em nossa resistência, diversidade e caos também existe beleza.

Quais são os projetos mexicanos que mais te encantam?

Eu gosto muito do projeto Pussypedia, que é uma enciclopédia sobre a sexualidade feminina, disponível em espanhol e inglês. Também sou muito fã das ilustrações da Mariana Lorenzo (Maremoto), que é uma amiga inseparável do Malvestida.

Por outro lado, penso que na cena musical estão acontecendo coisas importantes: festivais, como o Nrmal, e artistas como Silvana Estrada, Fer Casillas, Girl Ultra, Imma Soul. Existem muitos talentos femininos que estão chamando atenção.

Que lugares na Cidade do México devemos conhecer?

Ai, são muitos! É uma cidade cheia de museus e e restaurantes deliciosos, além de ter uma energia muito especial. Para mim, alguns dos bairros mais lindos para visitar são Coyoacán, o Centro Histórico, la Roma y la Juárez.

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