Confissões de Perdidas: Ana Beatriz Rosa
Relato de Ana Beatriz Rosa
CONFISSÕES DE PERDIDAS É UM QUADRO QUE EXPLORA DIFERENTES PERSPECTIVAS DO SER-E-ESTAR-PERDIDA, POR MEIO DE RELATOS DE MENINAS DA NOSSA COMUNIDADE, QUE COMPARTILHAM EXPERIÊNCIAS PESSOAIS E AS FASES CINZAS (OU NÃO TÃO AZUIS) DA VIDA.
Engraçado começar esse texto assim, porque aqui deveria ser um espaço para a gente compartilhar os motivos pelos quais nos sentimos perdidas. Mas, no momento em que eu o escrevo, me sinto tão preenchida que posso até ser capaz de dizer que eu consegui me encontrar.
São 6:40 da manhã. Assisto do meu lado direito a lua cheia se despedindo e do lado esquerdo, o sol que começa a despertar. Estou no alto de uma montanha, longe de São Paulo e há silêncio por toda parte. Nunca tinha presenciado esse espaço-tempo-mezzo-hoje-mezzo-
Prazer, sou Ana Beatriz Rosa. Sou jornalista, tenho 25 anos e estou em um emprego estável há três anos. A maior parte dos dias me orgulho do que eu faço. Mas nem mesmo o fato de saber que “está tudo bem” afasta a ideia de que deveria “estar mais”. Mais motivada. Mais produtiva. Mais reconhecida. Mais rápida. Mais rica. Mais forte. Mais decidida. Mais tranquila.
Cresci firmemente apoiada na ideia de que o ideal de sucesso é você ser bem sucedido em uma carreira. Se me perguntassem qual era o meu sonho há uns quatro anos atrás, eu diria: “ser referência”. Mas não saberia ao certo explicar em quê.
Dia desses estava conversando com uns amigos sobre a frase: “você não é o seu crachá”. Uma sequência de palavras que para mim pareciam óbvias causou discordância na roda. Ora, minha gente, é claro que você não é o seu trabalho. Vivemos em um mundo capitalista, alo-ou. Você, por mais que seu ego diga o contrário, no fim do dia é só mais um númerozinho na folha de pagamento. E, na primeira oportunidade que for necessário, será trocado. Como, então, atrelar a sua existência, o seu ser, ao seu crachá?
Mas aí uma amiga me lembrou. Acontece que eu moro sozinha em uma cidade enorme. Passo 10h do meu dia no meu escritório. Vejo mais meus colegas de trabalho do que a minha família. Há dias em que eles são as únicas pessoas que eu interajo no “off-line”. E estou onde estou porque eu acredito, em última instância, na capacidade de uma narrativa com boa informação em elaborar e, porque não, transformar o mundo em que vivemos. Seria, eu, o meu crachá?
O meu trabalho não é tudo. Mas é parte (importante) de quem sou. É o livro que estou lendo. É o tema que me desperta. É o relacionamento que eu crio. É o que me fez mudar de cidade. É o que me faz ficar. É a ambição que me tira da zona de conforto. Mas o meu trabalho não é tudo, insisto.
Quero acreditar que tudo o que foi descrito acima é o que realmente me compõe. E que a escolha de uma profissão é só a forma que nos foi ensinada de poder expressar tudo isso. Porque no fundo são as nossas decisões (e não decisões) que nos ajudam a encaixar essas pecinhas perdidas do quebra-cabeça que é a vida. E a gente até pode tentar se iludir em achar que tem tudo sob controle, mas aqui vai um spoiler: não temos. Nem com um emprego CLT. Nem com uma vaga de liderança na startup unicórnio.
Na newsletter passada, o insight que a Barbara deixou aqui permanece comigo. Se o trabalho me consome 10h, o que eu faço nas horas que sobram para me permitir um encontro comigo?
Não tenho uma resposta ainda. Mas compartilho com vocês o que me acompanha: enjoy the road. Assim, simples. Afinal, o que importa é o movimento (e recuar e esperar também são ações).
Sejamos gentis com quem estamos nos tornando. E se não temos a menor ideia do que vai vir por aí, que ao menos tenhamos a certeza de que uma coisa a gente pode controlar: com quem decidimos compartilhar.
Por aqui, a lua já se despediu por completo. Mais um dia. Mais uma oportunidade. Amanhã virão outras. Vamos juntas <3